Agora que os convites foram todos entregues, sugeriram-nos que publicássemos aqui os poemas que os acompanham.
O autor mais antigo é Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid, um dos mais importantes representantes da poesia luso-árabe.
É raro encontrar qualquer obra escrita no “Al-Andalus”, científica ou não, que não esteja adornada com composições poéticas. A mais idiossincrásica forma de cultura árabe sempre foi a poesia, a arte do verbo que nasceu para fazer companhia ao beduíno, seguindo a cadência da sua montada, na solidão do deserto. Talvez não seja por acaso que “verso” em árabe se diga “bait”, que significa simultaneamente “casa”, e “palavra” se pronuncie “mufrad”, de “fard”, “indivíduo”.
No Portugal do “Al-Andalus”, a poesia fazia parte do quotidiano e era prática comum, não só nas mansões com os seus jardins e vergéis ou nas alcáçovas, de senhores e próceres, mas ainda pelo povo humilde que arroteava os campos na faina da lavoura. Nas cortes, perante os vizires, os políticos adornavam as suas prédicas versejando e romanceando habilidosas metáforas. Todo o cavaleiro, antes de desembainhar o sabre para se arrojar estoicamente à alucinação da peleja, titubeava um poema em forma de oração. Homens e mulheres do “Al-Gharb” eram poetas, poetas do panegírico, da paixão, da saudade, do drama, da graça e dos amores infelizes, por ser infeliz o destino que os marcou.
É nesta conjuntura que nos surge a figura de Al-Mu’tamid, mascido em Beja, de uma família de poetas. Nomeado, aos onze anos de idade, foi governador nominal de Huelva, cujo reino taifa (do árabe “at-taua’if”, que significa “fracção”, “partido”, governados por soberanos designados de “muluk at-taua’if”, “reis de partidos”) abarcava cidades como Sevilha, Córdova, Mértola, Silves, Faro, Huelva, Carmona, Ronda, Algeciras, Niebla, Jaen, Murcia e Beja, herdando o trono, em 7 de Fevereiro de 1069, por execução do seu irmão Ismail, ordenada pelo próprio pai para castigar uma suposta traição.
Na sua corte taifa hispalense reuniram-se alguns dos maiores estudiosos e homens das artes da época, como o astronómo Al- Zarqali (Arzaquel), o geográfo Al-Bakri ou os poetas Ibn Hamdis, Ibn al-Labbana e Ibn Zaydun.
Solta a alegria!
Que fique desatada!
Esquece a ânsia que rói o coração.
Tanta doença foi assim curada!
A vida é uma presa, vai-te a ela!
Pois é bem curta a sua duração.
E mesmo que tua vida acaso fosse
De mil anos plenos já composta
Mal se poderia dizer que fora longa.
Que seres triste não seja a tua aposta
Pois que o alaúde e fresco vinho
Te aguardam na beira do caminho.
Que os cuidados não sejam de ti donos
Se a taça for espada brilhante em tua mão.
Da sabedoria só colherás a turbação
Cravada no mais fundo do teu ser
É que, de entre todos, o mais sábio
É aquele que não cuida de saber.
Esquece a ânsia que rói o coração.
Tanta doença foi assim curada!
A vida é uma presa, vai-te a ela!
Pois é bem curta a sua duração.
E mesmo que tua vida acaso fosse
De mil anos plenos já composta
Mal se poderia dizer que fora longa.
Que seres triste não seja a tua aposta
Pois que o alaúde e fresco vinho
Te aguardam na beira do caminho.
Que os cuidados não sejam de ti donos
Se a taça for espada brilhante em tua mão.
Da sabedoria só colherás a turbação
Cravada no mais fundo do teu ser
É que, de entre todos, o mais sábio
É aquele que não cuida de saber.
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